O meu nome é Ray,e sou gay. Este será um blog sobre “as coisas vulgares que há na vida”. Na minha vida! É um blog para maiores de 18 anos. Para todos aqueles que tem alguma curiosidade sobre a vida e pensamento gay.
O que me dizes?
Por: Ray, em 21.09.07 às 17:35link do post | adicionar aos favoritos

19 De Setembro de 2007

 

A cidade está com um tom de luz fantástico. O sol, as (poucas) nuvens, o céu e as cores das paredes estão conjugados na perfeição.

Não é fácil de descrever, mas iluminou-me e encheu-me a alma, depois do negrume que ontem a envolveu.

Nesta altura de arrumações e triagem de memórias, tive que deitar cartas foras. Foi duro, deitar recordações de amigos para o lixo. Cada papel daqueles envolveu, por quem as escreveu, amor, carinho e saudade por mim, e só as deitei fora mesmo por pura necessidade, mas sinto-me mal por não ser conseguir de alguma forma honrar os sentimentos de quem me quer bem, e teve tempo para me escrever. Há algo de extraordinário numa carta, algo que ultrapassa o simples papel, são sentimentos vividos e emoções reais!

 Lá se foram missivas de conteúdo diverso, que provavam que se comunicava e se convivia antes dos sms existirem, e da altura que o e-mail ainda era uma daquelas coisas que se liam nas revistas das tecnologias por vir, e os blogues nem no horizonte da minha imaginação se avistavam.

Hoje tenho o round 2 nesta luta de sentimentos, vou ter que me desfazer de pelo menos de dois terços da papel|memórias que arrasto comigo desde os primeiros dias que vivi em NY. Sei que é papelada que só a mim me dizem algo, mais significam e relembram-me de situações e sítios em que tive e o que lá fiz! São os papéis de 2 anos de alegria, tristezas, conhecimento, crescimento, descobrimento, angustias, saudades e liberdade. Memórias que espero não perderem sentido nem significado na minha tola cabeça. Por outro lado, fazem também parte daquela altura da minha vida, em que me tentei enganar e convencer-me a mim próprio que não era gay. Foi usando uma “máscara” que estas memórias foram compostas.

Só não me sinto pior porque afinal de contas também não vou ter prole a quem tenha que deixar legado histórico!

Outra coisa que me entristece muito, são os livros que tive que deixar para trás. Entre eles a colecção (completa) dos “sete”. Foi com eles que ganhei o gosto pela leitura, e vivi as primeiras aventuras imaginadas juntamente com aquele grupo fantástico. Ainda pensei em doa-los para a biblioteca, mas alguns deles estão demasiado degradados.

Sinto-me a deixar para trás a minha meninice. Mas assim são estes dias de mudanças.

Ainda não sei de este desprendimento forçado das coisas que formaram a minha personalidade, do deitar fora grande parte do meu passado, saber que daqui em diante só na minha memória é continuaram a existir, se me vai deitar ainda mais a baixo. A morte da Lara, agora isto, só me desanima. Talvez esteja na altura de aprender a desprender-me das coisas materiais! Mas tinha que ser logo com as coisas mais difíceis de largar? Coisas que estão intimamente ligadas à minha memória e ao meu próprio ser.

Como é que é possível numa altura de tanta tecnologia, e de formatos digitais dos quais sou adepto incondicional, eu me comova tanto com papéis?

Simples papéis, mas estampados e encharcados de memórias de sítios, pessoas, de choro e de riso, emoções puras e duras. Pessoas e situações que dificilmente vou voltar a ver e sentir.

Nisto de viver do passado e da saudade sou português ate ao âmago. Embora espere pelo que o futuro me traz, o passado está sempre aqui ao meu lado. Não o consigo largar tão facilmente como gostava!

R.

 

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Por: Ray, em 18.09.07 às 17:12link do post | adicionar aos favoritos

15 De Setembro de 2007 – As tralhas da vida.

 

Para virar a minha vida de pernas para o ar, andei a fazer uma limpeza geral a tudo o que foi armários, gavetas, e recantos do apartamento.

Por vezes doeu-me o coração em mandar determinadas coisas para o lixo, mas tinha que ser. Em menos de 24 horas enchi 4 sacos de lixo dos grandes com tralhas que fazem parte da minha vivência, e de algum modo faziam parte do meu ser. Mas não podia levar tantas coisas comigo. De certeza que vou sentir faltas de muitos destes cacaréus, papeis e afins.

Acho que por ter tido a coragem nessessária para me livrar destas recordações, cresci. Ao deixar partes do meu passado para trás estou pronto para encarar um novo futuro.

Até que ponto me consigo desprender do passado?

Algumas coisas não hesitei em deitar fora, com uma ou outra até me perguntei porque raio guardei aquilo. Deveriam ter feito sentido apenas na altura em que as coloquei na gaveta, outras que já tinha a algum tempo, na esperança de virem a ser precisas, nunca o foram e por isso se tornaram dispensáveis.

Houve alturas durante este processo que não consegui evitar de me emocionar. Umas vezes a rir, outras quase a chorar. É impressionante quanto um objecto inanimado nos consegue tocar. Fiz umas quantas viagens ao passado. Acabei por ir recuparar algumas ao saco do lixo. Não estou ainda pronto para me desligar de tudo.

A mermobília faz parte da minha maneira de ser, e há coisas das quais não abro mão! Serão elas que contaram a minha história, quero partilha-las com alguém especial quando e se alguma vez chegar, ou servirão de recordo quando eu não estiver mais cá.

O mais provável e que daqui a um ano já tenho mais uns quantos sacos de coisas não essenciais para o meu dia-a-dia, mas imprescindíveis para contar a história de quem sou. Até que o dia virá em que de novo me vou confrontar com mais um virar de página e de novo a limpeza ao meu passado!

Como canta a Marisa num dos mais belos fados que tem:

“ As coisas vulgares que há na vida, não deixam saudades,

Só a lembranças que doem ou fazem sorrir”

A dificuldade para mim é distinguir entre as coisas vulgares, e as lembranças que tenho que manter. E foi este processo de separação que me fez crescer e aperceber um pouco mais quem sou e o que faço, e do que tenho para mostrar daquilo que já fiz com a minha vida.

R.

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