27 De Setembro de 2007
Não foi um ultimato, mas para bom entendedor, meia palavra basta.
A minha cunhada conta que eu saia daqui ate dia 1 do mês que vem.
Assim, hoje à tarde andei á procura de quartos, numa busca um pouco ingrata; ou só querem meninas, ou senhoras, ou estudantes e professores, ou são todos muito longe para quem não tem carro. Ainda assim consegui marcar duas visitas, uma para hoje e outra para amanha, e ainda me falta falar com alguns números que não me atenderam. Vamos lá ver o que isto dá.
A verdade é que já me sinto persona non grata aqui em casa. Ontem depois de sair do bar ainda fui dar uma volta bem longa pela cidade, para fazer tempo para vir para casa o mais tarde possível.
Detesto-me sentir assim. Sinto-me a mais juntos daqueles de quem gosto. Sei que também gostam de mim, e esta situação também está a ser complicada para eles. É um esforço e um incómodo acolherem-me aqui. E fico-lhes grato por isso. Nunca pensei foi ter que sair daqui tão depressa, mas assim é a vida! Fez hoje uma semana que comecei a dormir aqui, ainda os músculos não recuperaram, e já tenho que me preparar para outra. Felizmente acho que tenho dinheiro suficiente para pagar renda e sinal.
Ainda que tenha que ir viver para um quarto, acho que será o melhor para mim. Consigo recuperar alguma privacidade, especialmente se for um apartamento partilhado apenas por rapazes. E já decidi que em prol de poder levar quem me apetecer, e fazer o que me vai na gana, me assumirei logo de inicio. Sim sou gay, lidem com isso!
Vou estar em pé de igualdade com quem lá estiver. Não terei que me preocupar com as horas a que chego, se puxo o autoclismo, se ligo o pc, nem com as horas a que me deito ou me levanto, se almoço ou se só janto. Certo que o meu mundo se resumirá a um quarto, mas que se foda, porta fechada e será só meu!
E mais vale esta pequenez que o vazio em que estou neste momento, que me faz andar em pontas dos pés, as escuras pela casa para não incomodar ninguém, evitando zonas comuns, porque sei que estão a falar de coisas que só a eles dizem respeito. Ter medo que uma noite ter insónias e me apeteça levantar para ver tv, ler ou até esgalhar uma. Ser um refugiado num campo de acolhimento em que nada é realmente meu, e em sítio nenhum me sinto um pouco em casa nem à vontade, e que todas as minhas tralhas não pertencem realmente aqui e só estão a tirar espaço a quem tem pouco para oferecer.
Acho também que a experiência de ter vivido dois anos em NY em situação semelhante, e com ainda com menos privacidade, estará a meu favor para resumir a minha vida a um quarto, e áreas comuns num apartamento.
Ainda vou agradecer a minha cunhada por esta atitude dela. Está a fazer tirar-me da minha zona de conforto e a acabar com esta inércia instalada na minha vida.
Toda aquela energia positiva que tenho vindo a sentir, estou a orientá-la para este propósito. Ainda que me sinta pressionado e um pouco magoado, estou calmo e com vontade de sair daqui o mais depressa possível.
R.